[RESENHA] Dragão Vermelho, de Thomas Harris

Ano  de lançamento: 1983
Editora: Record
Páginas: 348
Nota: 4/5

 " [...] você não se sentiu tão mal porque 

mata-lo foi bom? [...] não se preocupe.

Porque não achar bom? Deve parecer bom a Deus:

Ele faz isso o tempo todo,

não somos feitos à Sua imagem?"
(pág. 298)


Embalado pela leitura do ótimo "O Silêncio dos Inocentes", comecei a ler Dragão Vermelho com a ideia de que a presença de Hannibal Lecter fosse tão forte quanto na sua continuação. Nada disso. Apesar de ter uma importância cabal no desenrolar da história, Hannibal pouco aparece. Sei lá, mas talvez o autor ainda não havia desenvolvido totalmente o personagem. Mas acreditem, essa presença coadjuvante de Lecter foi ótima ficando em Dolaryde o lado sombrio da trama.

Neste romance policial, vemos Will Grahan, um agente aposentado do FBI sendo reintegrado as suas tarefas, a pedido de Jack Crowford para que ele, Will, possa usar de seu talento quase sobrenatural para encontrar um serial killer (Will havia abandonado os serviços depois de quase falecer prendendo, adivinhem, Lecter), que escolhe suas vítimas com as seguintes características: familia formada por um casal, dois filhos e um bicho de estimação. Vale ressaltar que as mulheres são extremamente atraentes.  

Fada do Dente (ou dentuço), é Dolarhyde, um homem que teve sérios problemas durante a infância e juventude que, paulatinamente, foram transformando-o no que é hoje: um serial killer brutal. Em Dolarhyde se encontra a melhor parte do livro. Acompanhando sua psique vemos o quão perturbado ele é. Acredita que está passando por uma transformação onde seu eu, está se fundindo a algo divino, que seria a pintura de Willian Blake, Dragão Vermelho. Por conta desta relação que posteriormente ele deixe de ser o Fada do Dente a passa a ser chamado de Dragão.

A relação de Dolarhyde com Reba  é muito bela. É daqueles casos onde você deixa de enxergar o vilão como um monstro simplesmente, e vê que mesmo em toda aquela loucura, há espaço para sentimentos puros e bons. Sem falar que Reba é muito bacana. Outros personagens secundários como Willy, Molly, Lounds e Jack são bacanas e servem pra tornar a trama mais rica, principalmente Jack. Você sempre fica em dúvida sobre suas verdadeiras intenções pois, tem o dom de manejar as pessoas pra alcançar seus objetivos.

Mas é na psique, tanto de Will quanto de Dolarhyde que se encontra o ponto forte da trama. O primeiro, um cara que sofreu no passado, que gostaria de ficar de fora de tudo isso mas não consegue. Tem um "dom" pra fazer as coisas e, ao seu modo, é  o melhor no que faz mas, às vezes, vemos que por trás de seu brilhantismo existem demônios que podem ser tão ruins quanto os daqueles que ele caça. Já o segundo, é alguém que acredita estar em transformação. Que está mudando e tudo o que faz é parte do processo. Meticuloso e hábil, guia seus pensamentos sobre os paradigmas que lhe foram apresentados quando criança. E mesmo sendo o que é, um assassino hediondo, encontra dentro desse mar de lama, motivos pra mostrar sua humanidade e, quem sabe, parar.

É claro que esse jogo de gato e rato entra Will e Dolarhyde é bem montado e o desfecho final, apesar de curto, foi bem bacana. O único ponto fraco do livro é a demorada explanação dos métodos de investigação. Não sei mas, acho que já estava meio saturado disso pois havia lido  "O Silêncio dos Inocentes" recentemente e esta parte também é bem explorada lá. Mas não é algo que impeça ou comprometa esta ótima narrativa.

Boa Leitura.


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