[RESENHA] O Xangô de Baker Street, de Jô Soares

Ano de lançamento: 1995
Editora: Penguin Companhia
Páginas: 352
Nota: 4/5




"No meio de várias ilhas , a designação formosa

servia as mil maravilhas, pensava Paulo Barbosa.

E se o nome vem do grego, no fundo isso pouco importa.

O monarca tem apego, por essa língua já morta."
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"Elementar, meu caro Watson"



Jô Soares construiu uma carreira sólida no teatro e na televisão por conta de seu conhecimento vasto sobre diversos assuntos e, principalmente, seu senso de humor apurado. Foram muitos os personagens criados por ele que divertiram e alegraram muitas pessoas num passado não muito distante. Natural que quando se aventurasse pela literatura, ele levasse toda essa gama de habilidades para as páginas. Mesclando enredo policial, humor, personagens fictícios e reais, e muito conhecimento sobre o Rio de Janeiro imperial, O Xangô de Baker Street, apesar de alguns excessos, é um livro que mostra o talento de Jô de forma bem pontual.

Um violino Straduvaruis, presente do imperador Dom Pedro II, roubado; mulheres assassinadas de forma hedionda; e a ineficiência da policia carioca de resolver ambos os casos, levam  o Imperador a requisitar , nada mais nada menos, que um dos maiores detetives de todos os tempos: Sherlock Holmes e seu fiel escudeiro, dr. Watson.

Mesclar fatos e personagens históricos com fictícios pode render narrativas muito divertidas e interessantes. Dan Brown, James Rollins, e Giulio Leoni são exemplos de  autores que usaram isso – principalmente a ambientação – muito bem. Jô Soares, ao fazer uso desta ferramente, decide acrescentar um item a mais nesse caldeirão: humor. O resultado é muito bom.

Logo após o roubo de um violino raríssimo e mortes de mulheres nas ruas do Rio de Janeiro, o imperador dom Pedro II decide, após sugestão da artista francesa de passagem aqui por terras tupiniquins, Sarah Bernhart, convidar o detetive Sherlock Holmes para desvendar tais casos. Em terras brasileiras, Sherlock e Watson acabam encontrando um local muito diferente da cinzenta Londres. O que não impede que nossos personagens conheçam as delicias – carnais e culinárias – da terra e sejam deparados ao primeiro e mais famoso serial killer da história: Jack, o Estripador.

A narrativa do livro e bem divertida. Jô Soares faz um retrato do Rio de Janeiro Imperial de forma sábia e leve nos brindando com seu conhecimento vasto e preciso. Porém, o que mais se destaca no livro são os personagens. Tanto os reais quanto os criados. . Claro, Jô não fez apenas uma cópia do que já existe sobre eles. Ele deu seu toque pessoal. Watson é o típico inglês sisudo e impaciente; Sherlock, um festeiro de mão cheia e que ainda não era o sábio investigador imortalizado nas páginas de sir. Arthur Conan Doyle.

Além deles, temos personagens brasileiros que fizeram sucesso por aqui. Chuquinha Gonzaga, Olavo Bilac dentre outros, são personagens que, aproveitando das oportunidades da vida carioca, não se fazem de rogados em serem mexeriqueiros e beberrões. Ainda há espaço para uma discorrida sobre a cultura afro trazida pelos escravos.

O único ponto negativo da narrativa é que, na tentativa de caricaturar demais os personagens, Jô acaba pecando pelo excesso deixando alguns deles um pouco artificiais. Nada que atrapalhe a leitura. E, no final, do livro, fica óbvio porque Conan Doyle não se atreveu a contar esta história.

Boa leitura.



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