[RESENHA] Coraline, de Neil Gaiman


Neil Gaiman é um dos grandes nomes da literatura fantástica da atualidade. Nos livros, ele repete o mesmo sucesso que conseguiu nas histórias em quadrinhos. O teor fantástico que, quase sempre, vem atrelado há uma mensagem mais profunda, o alavanca a um dos grandes expoentes da literatura. Em Coraline, vemos como uma garotinha inquieta encontra um mundo que parece ser tudo o que ela sonhou, porém, em uma olhada mais profunda, o que se descobre é que Coraline terá de usar de toda sua coragem e inteligência pra fugir de um mundo sombrio e ainda salvar a vida dos pais. Pode-se observar, nesta leitura, uma  metáfora de que somos afortunados por não termos tudo que desejamos.

SINOPSE
Coraline acaba de se mudar para um apartamento num prédio antigo. Seus vizinhos são velhinhos excêntricos e amáveis que não conseguem dizer seu nome do jeito certo, mas encorajam sua curiosidade e seu instinto de exploração. Em uma tarde chuvosa, consegue abrir uma porta na sala de visitas de casa que sempre estivera trancada e descobre um caminho para um misterioso apartamento 'vazio' no quarto andar do prédio. Para sua surpresa, o apartamento não tem nada de desabitado, e ela fica cara a cara com duas criaturas que afirmam ser seus 'outros' pais. Na verdade, aquele parece ser um 'outro' completo mundo mágico atrás da porta. Lá, há brinquedos incríveis e vizinhos que nunca falam seu nome errado. Porém a menina logo percebe que aquele mundo é tão mortal quanto encantador e que terá de usar toda a sua inteligência para derrotar seus adversários.

RESENHA
Coraline nem imaginava que a mudança de uma casa para outra viria atrelada a uma mudança muito mais profunda em sua vida. Após se mudar com os pais para uma casa nova, ele logo se vê entediada. Seus pais que apesar de todo amor e carinho que sentem por ela, pouco tempo destinam pra manifestá-lo acabam fazendo Coraline sentir-se só. Os novos vizinhos, entre simpáticos e esquisitos, não conseguem trazer emoção na vida de Coraline e nem não conseguem pronunciar seu nome correto. Sendo assim, o que resta para nossa garotinha é dar vazão a mente prodigiosa através de conhecer o casarão para onde foram morar.

Após contar quantas portas existem na casa, acaba por descobrir que uma delas não abre. Quando finalmente acha a chave da porta, o que Coraline descobre é que do outra lado há um mundo igual ao seu, porém melhor: pais atenciosos, comida mais gostosa, vizinhos mais legais, até seu gato conversa com ela. Entretanto, atrás desta fachada de maravilhas, há um perigo muito intenso e seus pais passam a correr risco de morte. Pra salvar si e seus pais, Coraline terá de usar toda sua astúcia para conseguir enganar sua outra mãe e sair ilesa desta nova realidade.    

Coraline segue um ritmo rápido. Direcionado ao público infato-juvenil, o autor não se preocupa em desenvolver mais profundamente certas cenas tornando alguns desfechos bem acelerados. Apesar do personagens bem construído há uma pressa em destrinchar logo os eventos e passar para um outro o que é compreensível haja vista o público a que se destina. Mesclada com terror e fantasia, a narrativa bebe notadamente de alguns livros de muita projeção na literatura fantástica como "Alice no país das Maravilhas" e "História Sem Fim" (resenha aqui ). O que serve para enriquecer ainda mais a narrativa.

Gaiman cria uma atmosfera de mistério – e as ilustrações de Dave Mckean servem pra maximizar o ar de terror –  onde o que Coraline vê, flerta com a realidade e o fantasioso. Além do fato de existir um mundo do  outro lado, o mundo onde ele descobre seus novos pais que “seriam” melhores que os reais, não passa de uma realidade de aparências. Por baixo daquela aura de alegria e amor, sua nova família mantém escondida toda uma podridão de caráter que faz alusão direta ao nossos tempos digitais onde posts em redes sociais levam a entender que a vida, mostrada através de fotos e vídeos, é um mar de alegria onde raramente há algum entrevero. Mas, sabemos que uma olhada mais apurada na vida de cada um revela muitos percalços durante a existência e muitos deles, causados por nós mesmos.

O que Gaiman apresenta aqui, é uma metáfora da vida perfeita, distante da realidade onde nossos desejos devem ser atendidos sempre ao nosso mais insignificante desejo. E através de suas linhas, o autor faz questão de desconstruir esta imagem e nos fazer ver que, mesmo uma realidade ruim, é melhor que uma vida inventada.

Boa leitura.

obs.: Há uma adaptação feita em Stop Motion que vale á pena conferir. Claro, há algumas intervenções no roteiro mas nada que torne o filme ruim. Segue o trailer:




EXPECIFICAÇÕES DO LIVRO
Ano de lançamento: 2002
Editora: Rocco
Páginas: 160
Nota: 4/5



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