[RESENHA] A Escolha dos Três (A Torre Negra #2), de Stephen King


"Três. Este é o número do seu destino.
Três?
Sim, o três é místico. O Três está no coração do mantra.
Que três?"
(A Escolha dos Três)

A Escolha dos Três começa exatamente onde termina O Pistoleiro. Roland está caído próxima a praia onde havia ficado desacordado por dez anos após sua confabulação com o Homem de Preto. Lagostrosidades, animais que mais parecem cães infernais, aproveitam-se de um Roland cansado e sonolento para ataca-lo. Resultado: o pistoleiro perde dois dedos da mão direita. Agora mutilado e apresentando uma infecção em decorrência da mordida das Lagostrosidades, Roland segue em busca da Torre.

Se no primeiro volume as narrativas mais pareciam uma perseguição num deserto infinito e opressor, neste há uma mudança na forma narrativa o que será a tendência dos próximos livros. Esta diferença é justificável tendo em vista o hiato entre uma obra e outra. A série que aparentemente tentava emular a Saga do Anel começa a se distanciar e tomar sua forma. É a partir deste volume que vemos como King pretende continuar sua narrativa. E a mudança não poderia ser melhor.


No primeiro volume, temos algumas breves indicações dos hábitos e costumes de Roland e seu mundo. Aqui, as coisas são aprofundadas e alguns conceitos são explicados como o conceito de Ka e Ka-tet. O primeiro, seria um conceito muito parecido com o que chamamos de destino, já o segundo seria a junção de pessoas ligadas pelo mesmo destino. Então, temos Roland seguindo seu caminho, ou Ka, em busca de seu Ka-tet.

Após uma longa caminhada,o pistoleiro acaba por encontrar três portas sustentadas por nada na beira da praia. Cada uma com uma inscrição: O Prisioneiro, A Dama das Sombras e O Empurrador. Roland precisa atravessar essas portas que levam ao encontro de seu Ka-tet. E é aqui que as coisas ficam ótimas.

A lentidão narrativa de King não é nenhum empecilho nesta narrativa. Os detalhes são muito bem delineados trazendo uma veracidade insidiosa. Este excesso de explicação é de muita importância na apresentação dos novos personagens. E assim somos apresentados aos novos integrantes do KA-tet do pistoleiro. O primeiro, Eddie, um viciado em heroína  que se encontra em uma situação complicada para atravessar um carregamento de droga; a segunda, Odetta Holmes, uma negra ativista perdeu metade das duas pernas após ser empurrada em frente a um trem e que guarda dentro de si mais de uma personalidade; e por último, Jack Mort, que foi o responsável, além da morte de Jake, que conhecemos no livro o Pistoleiro (vá então, há outros mundos além deste), é também o homem que empurrou Odetta Holmes na frente do trem.


A sacada genial de King de como se dá a passagem de Roland por essas portas é bem geniosa. É uma surpresa perceber o que ocorre com o pistoleiro no nosso mundo  e, as descrições dessa parte são bem interessantes e necessárias para sabermos como pensam nossos novos personagens. E que personagens. Cada um deles tem uma  complexidade envolvente somados a alguns problemas de caráter – ou não – de cada um.

Enquanto Eddie se afunda mais e mais nas drogas e vê no irmão Henry uma espécie de herói da decadência, Odetta sofre do transtorno de dupla personalidade e, uma das personalidades, faz com que ela acaba se revelando alguém nada ortodoxa em suas atitudes. Porém, ainda que apresentem seus problemas nota-se que eles possuem suas qualidades. A presença desses personagens ampliam o horizonte da saga ao plantar a dúvida de como Roland irá tirar proveito dessas parcerias, uma vez que tanto Eddie quanto Odetta apresentam sérios problemas. Além disso, a infecção de Roland avança e se não conseguir se tratar, de nada adianta essa ampliação do grupo.

Quanto a Jack Mort, ao contrário do outros dois que apesar dos problemas carregam em si um “Q” de bondade,  este não deixa espaço pra nada dentro de si além da maldade. Em uma rápida olhaad em seu íntimo, Roland sabe que não pode contar com ele e acaba por tomar uma atitude que pode ter desdobramentos catastróficos para ele.

Para muitos, é aqui que realmente começa A Torre Negra. Se no primeiro volume temos um monte de questão levantadas e não respondidas, neste, a narrativa é mais coesa. Há uma preocupação do autor em não levantar uma miríade de indagações que não podem ser respondidas prontamente, sendo assim, o clima meio confuso do primeiro livro fica de fora.

King sempre foi um autor que soube moldar seu personagens para que não parecessem muito genéricos. Há uma profundidade de camadas que fazem o leitor se apegar, odiar e surpreender com cada um deles. Não há como passar indiferente.

Ao final da narrativa, há uma expectativa salutar de que King realmente conseguiu criar algo grandioso mas que continua pecando em amarrar certas pontas da história principal que é a busca pela torre. Agora é esperar os próximos episódios...

Boa leitura.


Livro: A Escolha dos Três (A Torre Negra #2) 
Páginas: 416
Autor: Stephen Kung
Editora: Suma de Letras
Comprar: Amazon
Nota: 
  

2 COMENTÁRIOS

Ano passado li O Pistoleiro e confesso que dos quase 30 livros q li do autor, foi o que achei mais "morno" de todos. Vou tentar ler esta sequência dá saga este ano e ver se me empolgo mais !!!

Li O "Pistoleiro" pela primeira vez quando devia ter uns 18 anos e não era um leitor muito assíduo e confesso que fiquei bem maravilhado com a saga de Roland. Relendo-a este ano e principalmente já estando habituado a escrita de King, não achei ele tão bom assim. é um livro OK mas muito diferente daquele estilo narrativo de King que estamos acostumados. Na Escolha dos Três, ja é possível perceber o estilo detalhista e irônico característico de King que o alçou ao topo. Por isso, tente ler a continuação de O Pistoleiro, quem sabe acaba lhe imprimindo uma sensação diferente do primeiro livro.
Abraços.


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